Não há razão aparente para este post, nem motivo, nem pretexto, nem efeméride ou qualquer outra espécie de argumentação ou justificação para to escrever. Não há factualmente mas escrevo-te na mesma.
Sei que, muito provavelmente, não te importas, não queres saber e também por isso não me vou alongar acerca de como estou, o que estou a fazer, como me corre a vida. Honestamente, não me interessa a mim falar disso, também.
Sei que deixei de ter pretensões de ser alguma coisa de especial, para além de mera espectadora da sua própria existência. Ou então, talvez não. Acho que sim, que cresci e que entendo agora muitas das coisas que me dizias e que só agora me fazem sentido, porque se conjuga o tempo, o espaço e a predisposição para o entender. Acho que sim, que cresci, e sei disso quando percebo que não há certezas de nada e que a vida é um simples jogo de tentativa-erro e que mesmo que faças batota, és tu sempre quem tem que recomeçar as jogadas.
Eu, a miúda caprichosa que sempre odiou tomar decisões irreversíveis, que sempre quis moldar o Mundo à sua maneira e sempre que as coisas não cabiam, as empurrou à martelada, mesmo que as danificando, com o único propósito delas passarem a caber, no matter what. Eu, agora já não miúda, já mulher.
E não te escrevo este postl por ti- é mentira! Faço-o por mim (mais uma vez) porque penso muitas vezes em ti e não sei lidar com a forma como me portei contigo.
Conheci-te há 27 anos e hoje não te conheço. Quero-te pedir desculpas. Não fui decente. Ponto.
Não garanto a mim própria que estou uma pessoa melhor. Não tenho pretensões de redenção e de começar tudo de novo de coração limpo porque a alma não se lava com lixívia. Não acredito que possa fazer melhor, talvez possa fazer diferente porque há coisas que nunca mais voltarão a ser iguais.
Sabes quando tens uma escara? Dói que se farta e aquela merda até acaba por cicatrizar, ganha-se uma nova pele, mais dura normalmente mas também menos perfeita para nos lembrar que a ferida esteve lá e que a epiderme está agora mais forte mas menos virgem. E assim percebes que podes voltar a usar a pele como bem entenderes, mas nunca usarás a pele virgem de outrora, da forma descicatrizada de antes. Segues simplesmente em frente, com a pele exposta de novo em jogo, tentativa-erro em vista.
Tenho saudades de ti. De ti em mim. De mim em ti. De nós. Nunca somos exactamente aquilo que julgamos: eu também era aquilo me projectava em ti. Aquilo que projectava que tu eras em mim. Aquilo que sentia que era para ti. E, nunca me ocorreu, que fui também aquilo que efectivamente eu era para ti, lá longe daquilo que eu sentia que poderia ser, sem a minha intervenção, sem ser sujeito de nada, mas simples objecto.
Retenho na memória a conversa que tive contigo no dia em que morreu o meu avô (foste a primeira pessoa com quem falei depois das notícia) e eu sinto, que para além de tudo, gostas ainda de mim. Sinto-o, embora não saiba. Sem certezas, remember? Não importa, vivo com os meus sentimentos e faz-me bem sentir assim.
Sei que gosto muito de ti. Por isso te queria pedir desculpas, sabendo que isto é o mais certo que escrevi neste e-mail. E dizer-te que te desejo coisas boas sem fim, mesmo na distância e na ausência, mesmo com hiatos de tempo e de espaço, mesmo que neste momento não sejas mais que a projecção que faço de ti: aí longe.
Aqui tens um bocadinho do meu coração: abro-o para ti como só o faço a quem amo. Gostava tanto que entendesses tudo. Espero.