segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dói-dói

Desde a última vez que te vi, agarrei numa faca e, sem querer, abri um lenho num dedo. Sangrou demasiado para um corte involuntário e sem pretensões. Enquanto corria pela casa, em silêncio, à procura de uma torneira para colocar o dedo debaixo de água fria, o rasto de sangue vermelho lembrava-me que estou viva (também graças a ti).
A água e o sangue misturavam-se e quando consegui estancar a ferida, tapei-a com um penso rápido que não funcionou rapidamente como seria expectável, tendo em conta o seu nome. O penso- rapidamente- se ensanguentou e eu não percebia porque não parava de sangrar a porra do dedo (porque estou viva, sei agora).
Discuti, internamente, se depois do sangue parar de jorrar taparia o corte inestético com outro penso ou devê-lo-ia deixar cicatrizar ao ar.
Decidi-me pela última alternativa e olho, todos os dias de manhã, para o dedo magoado esperando a próxima vez que te vir para te apontar a fenda sísmica que ainda me rasga a pele e te pedir, como a menina que sou, que me beijes o dói-dói e digas que o sismo da dor já passou.

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