terça-feira, 18 de novembro de 2008

November rain

O edifício era redondo como uma bola que rodava com ela dentro, num movimento circular e curvilíneo.
Lá fora chovia nocturnamente e ela saiu com o velho pretexto de comprar cigarros. Poderia não mais voltar, desparecer como tantas vezes lhe sugeria a memória.
Desceu e lá baixo ele esperava-a, sem saber bem o que esperava nem tão pouco que a esperava. Começou a chover e ela cravou-lhe um cigarro. O último, é engraçado como é sempre o último. Ele seguiu-a para perceber se a chuva apagava a ponta cigarrenta mas nunca desviou os olhos na direcção do cigarro. Travaram passas e travaram os passos um do outro, enrolados numa dança da chuva.
Entregaram-se aos beijos numa rampa que dava acesso ao parque de estacionamento, de frente para uma câmara de vigilância. Seios desnudados, mãos abertas à chuva. Corpos molhados por dentro.
Percorreram uma rua com nome de flor holandesa, cabelos encharcados, roupas coladas. Abrigaram-se num compartimento destinado ao lixo de um prédio, mas os únicos cheiros que sentiam era o dos corpos ofegantes e transpirados, mesmo fazendo frio lá fora.
Era uma segunda-feira redonda. Ela voltou para o escritório sem cigarros. Chovia em Novembro.

2 comentários:

carteiro disse...

Eu cá gosto da chuva de Novembro... :)

RC disse...

Carteiro,

E eu gosto de ti. :)