Ele decidira que terminara, sem sequer ter começado. Não a queria para nada. Não havia lugar para ela na vida dele: horários trocados, caminhos trocados, ideias trocadas, sentimentos trocados, medos trocados, propósitos trocados, trocas trocadas. Ele sentia-se idiota: afinal, a troca de nada se deixara envolver.
Ela sabia-o seduzir Ela sabia que o sabia seduzir e sabia-o fazê-lo com uma mestria sedutora. Uma ideia a consumia: não se deixar envolver. Quando sentia que alguém lhe ocupava a mente mais tempo que o que se permitia, colocava em pratica a infalível teoria da substituição: "Não há como uma paixão para curar outra".
Ele acreditava no poder redentor (redutor?) da paixão: no calor da envolvência: na possibilidade de procurar o amor pela única razão dele aparecer sem aviso de recepção. Acreditava e enchia os pulmões de ar- como para ganhar fôlego- de cada vez que a beijava.
Ela rejeitava o beijo: aquele beijo. Em bom rigor, o beijo dele era o motivo- mesmo que inconsciente- para ela sentir que não resultaria. Abominava o beijar arejado, como quem sopra um balão. Faltavam ali elementos: língua, saliva, tacto. Isso facilitava, de longe, o não envolvimento."Love is a game"- escrevera-lhe ele na contra-capa de um livro que lhe oferecera. Para ele partilhavam o essencial: o gosto pela leitura do mesmo escritor de eleição. "Asfixia-me"- implorara-lhe um dia, a injectar-lhe um beijo cheio de ar. Ele queria-a: corpo e alma, sem pudor mas com entusisamo refreado (uma espécie de premonição). Sentia orgulho na sua companhia: tentava abraçá-la enquanto esperavam que o semáforo dos peões ficasse verde, abria-lhe a porta cada vez que ela queria passar, punha-lhe a mão em cima dos ombros enquanto caminhavam na calçada.
Ela não cedia ao prazer do sexo, mesmo que ele garantisse verbalmente que podia ser encarado como ocasional e descomprometido. Percebia nos olhos dele a não concordância com as palavras: sempre abominara os malditos românticos.
Ele tentava "cortar-lhe" as jogadas com as cartas mais pequenas do trunfo. Aqueles pequenos gestos que denunciavam o sentir pela alma. Mas fora o corpo que o fizera decidir-se a pôr termo aquela amizade coloridamente desigual e desequilibrada.Ela não se importava. Jogava aquele jogo como quem joga uma partida de krapô. Dois homens: dois baralhos: dois jokers. O trunfo era copas e era ela quem tinha o ás, rei e valete. "Rei morto, rei posto"- pensava a dama.
No fim, sobrava-lhe a ela apenas o ás de copas (essas danadas!). Nada a fazer: ambos perderiam naquele que era o prazer de jogar pelo jogo. Rei de espadas atiradas à terra, gastas de tanto lutar.
Ela sabia-o seduzir Ela sabia que o sabia seduzir e sabia-o fazê-lo com uma mestria sedutora. Uma ideia a consumia: não se deixar envolver. Quando sentia que alguém lhe ocupava a mente mais tempo que o que se permitia, colocava em pratica a infalível teoria da substituição: "Não há como uma paixão para curar outra".
Ele acreditava no poder redentor (redutor?) da paixão: no calor da envolvência: na possibilidade de procurar o amor pela única razão dele aparecer sem aviso de recepção. Acreditava e enchia os pulmões de ar- como para ganhar fôlego- de cada vez que a beijava.
Ela rejeitava o beijo: aquele beijo. Em bom rigor, o beijo dele era o motivo- mesmo que inconsciente- para ela sentir que não resultaria. Abominava o beijar arejado, como quem sopra um balão. Faltavam ali elementos: língua, saliva, tacto. Isso facilitava, de longe, o não envolvimento."Love is a game"- escrevera-lhe ele na contra-capa de um livro que lhe oferecera. Para ele partilhavam o essencial: o gosto pela leitura do mesmo escritor de eleição. "Asfixia-me"- implorara-lhe um dia, a injectar-lhe um beijo cheio de ar. Ele queria-a: corpo e alma, sem pudor mas com entusisamo refreado (uma espécie de premonição). Sentia orgulho na sua companhia: tentava abraçá-la enquanto esperavam que o semáforo dos peões ficasse verde, abria-lhe a porta cada vez que ela queria passar, punha-lhe a mão em cima dos ombros enquanto caminhavam na calçada.
Ela não cedia ao prazer do sexo, mesmo que ele garantisse verbalmente que podia ser encarado como ocasional e descomprometido. Percebia nos olhos dele a não concordância com as palavras: sempre abominara os malditos românticos.
Ele tentava "cortar-lhe" as jogadas com as cartas mais pequenas do trunfo. Aqueles pequenos gestos que denunciavam o sentir pela alma. Mas fora o corpo que o fizera decidir-se a pôr termo aquela amizade coloridamente desigual e desequilibrada.Ela não se importava. Jogava aquele jogo como quem joga uma partida de krapô. Dois homens: dois baralhos: dois jokers. O trunfo era copas e era ela quem tinha o ás, rei e valete. "Rei morto, rei posto"- pensava a dama.
No fim, sobrava-lhe a ela apenas o ás de copas (essas danadas!). Nada a fazer: ambos perderiam naquele que era o prazer de jogar pelo jogo. Rei de espadas atiradas à terra, gastas de tanto lutar.
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